quinta-feira, outubro 31, 2013

o país que nasceu meu pai

Meus queridos, quando pensei em vos escrever estas palavras, confrontei-me sempre com a dúvida da utilidade do que neste momento faço; procurando, quem sabe, daqui a muitos anos, fazer chegar a vós um pouco da nossa essência, da nossa raiz, da nossa abertura para o mundo e também falar-vos da capacidade que, julgo eu, tínhamos de transformar as influências em sonoridades próprias com as malhas dos guitarristas e as sub-frequências dos baixos e percussões, criando uma moderna estética sonora e experimental de swing frenético, por vezes parecendo querer apanhar a velocidade do tempo, mesmo em beat mais lento era pleno de intensidade. 

No fundo, queria falar-vos das pessoas que fizeram essa música de Oiro, essa geração dos quintais generosos em noites de recolher obrigatório. 

“Era uma vez... num tempo nem tão distante assim”. 

E de como podemos continuar a existir e até a influenciar a estética do mundo, tantas vezes sem reparar que ainda conseguimos ser matriz, assim pura. 

Hoje que vos escrevo, queremos “ignorar a força dos desgostos”. Hoje, do tempo onde vos escrevo, precisamos de paz nas nossas consciências. Precisamos da ingenuidade de criança para recuperar mais rápido e nunca perder a capacidade de amar. Precisamos esquecer a incompreensão dos homens. Esta é a nossa oportunidade de viver a vida que nos deram, que “nos nasceram”. 

Estar “aqui a fazer o som assim” como o país me pede, “parece que eu tinha a certeza ainda”... 

Lembrei-me desses kotas como o meu que nos deram esse nascer e ver a vida como só assim... “Éramos da canjonja”, “Filhos da esquindiba”. 

Éramos e somos ninguém e ao contrário do que dizem sabemos ser ninguém como poucos... acho que já não queríamos ser nomes nem estados nem aqueles por quem se espera. Acho que nós só queríamos “orgulho na carapinha” 

Amor entre todos de todas as tonalidades e proveniências que fizeram desse lugar o nosso lugar. 

A maka mesmo é que não faço ideia de que forma vocês falarão, se essa gravação e estas palavras chegaram a vocês. Poderia falar em português correto, mas nem mesmo sei como se fala ou escreve corretamente nos meus dias. 

Então ficam essas “iluminuras” em forma de canções, que talvez vos ajudem, ou quem sabe vos confundam mais ainda. Mas o mambo é esse, é essa procura de todas as tonalidades do nosso ser mais íntimo, mais resplandecente. 

“Nós todos... era pra ser nós todos”. 

fotos© Sergio Afonso
 

quarta-feira, outubro 30, 2013

primeiros detalhes do Angola Food & Drink Festival

informalidade, descontração, profissionalismo, muitas perguntas, muitos sorrisos, algumas conversas, reencontro com alguns amigos e outras coisas. 

a enorme simpatia do Chakall (Argentina) e do Carlos Graça (Moçambique) faz-nos pensar como devem ser felizes os ingredientes que esses chefs usam nas suas cozinhas.
 

um convite aos de cá

 
 

terça-feira, outubro 29, 2013

a surpresa que o passado escondeu!

a Sónia foi colega, não intima mas também não era afastada, era aquela colega que todo mundo já teve e que depois do fim do ensino médio seguimos caminhos diferentes e desconhecidos. eu nunca soube nada dela e provavelmente, ela nunca soube nada de mim. 

do outro dia, um colega do tempo do ensino médio falou-me de uma colega nossa que agora cantava num restaurante de nome Blue Jazz que fica na zona do maculusso. esforcei-me mas nunca consegui recordar-me o rosto dessa colega que agora virou cantora! 

quarta-feira no "Há Jazz no Camões" descobri que o rosto da Sónia Cunha é o mesmo que da minha colega e que a voz que o meu colega do tempo do ensino médio ouviu no Blue Jazz é a mesma voz que encantou a plateia que na quarta-feira encheu o auditório Pepetela do Instituto Camões. 
Nuno Marinho [viola solo] 
Mário Garnacho [piano] 
Sónia Cunha [voz] 
Fredy Mwankie [viola baixo] 
Joel Pedro [baterista]
 

sexta-feira, outubro 25, 2013

quarta-feira, outubro 23, 2013

para compartilhar

O sorriso de João Ubaldo Ribeiro é já meia resposta. O que acha de o seu romance Viva o Povo Brasileiro ter, na capa da edição alemã, uma imagem de capoeira? Divertido, o escritor brasileiro, um dos muitos que marcaram presença na Feira do Livro de Frankfurt, que encerrou no passado dia 13, adia a resposta. Sabe que essa escolha não daria tanto que falar se não se desse o caso de a arte marcial brasileira não ser sequer referida nesse seu livro. Por isso, diz-nos: «Não somos só capoeira, nem só candomblé, ou samba, ou Carnaval, ou mulher nua...» Na sua opinião, a principal mensagem da participação do Brasil no maior certame editorial do mundo, onde foi o país homenageado, é justamente essa: «Temos de fugir aos estereótipos.»
 

um convite aos de cá

segunda-feira, outubro 21, 2013

um momento chamado felicidade!

1º soneto
antes de escrever uma única palavra sobre a noite mais memorável de 2013 que a cidade de Luanda viveu, gostaria de falar sobre nós, apenas nós. aproveitar para dizer que quando escrevo sobre nós, também me incluo nesse plural... isso porque recebo cada vez mais emails com esta pergunta. acho que a generalização de um povo não ofende ninguém, alias, usamos o plural para falar no geral, mas penso que só se devem sentir ofendidos ou elogiados as pessoas que se revêem em determinada afirmação.

a verdade é que cada vez fico mais confuso com as coisas que acontecem por cá, porque são únicas e inexplicáveis! alguém consegue me explicar se seria possível por exemplo organizar um show do Júlio Iglesias num local onde as pessoas ficassem em pé para puderem dançar. pois bem, imaginem o público a dançar Júlio Iglesias ao vivo!

foi com esta sensação que fiquei ao chegar ao show do Seu Jorge e ver que na parte de frente haviam cadeiras organizadas por cima de um tapete vermelho. era a zona reservada ao público MASTER VIP, público que saiu de casa para ir ver um show do Seu Jorge sentado num local à céu aberto! já escrevi aqui sobre a criatividade angolana e sobre a nossa capacidade de criar conceitos únicos e inovadores que espantam o mais normal dos humanos.

o que queriam dizer com MASTER VIP, num lugar onde também havia a zona vip?
qual era a ideia de ter pessoas sentadas para ouvir ao vivo Eu Sou Favela?
e as perguntam continuam... 

2º soneto
 
a medida que vamos crescendo, penso que temos mais dificuldades em encontrar ídolos, talvez porque os que encontramos na adolescência aos poucos foram se tornando ídolos que também têm defeitos, por isso, hoje prefiro dizer que existem pessoas que admiro muito e que são muito importante para a minha estabilidade mental nos vários momentos da minha vida.

o Seu Jorge é esse cara. não tenho certezas mas desconfio que conheci-lhe por influência do Many, um amigo que apresentou-me muitas coisas boas nos tempos de Aveiro e que serei sempre grato.

quando soube do show em Luanda, pensei logo na oportunidade de encontrar a melhor forma de agradecer alguém que tanta coisa boa fez por mim e nunca se quer imaginou. quantos exames correram bem porque as horas de estudo foram ao som da sua voz. quantos momentos de tristeza foram ultrapassados porque as suas letras deram-me força. quantos momentos de inspiração surgiram no meio dessas melodias. se é possível, alguém me explica como é que se paga tudo isso?

não adianta explicar com muitos detalhes, a noite do dia 18 de Outubro será memorável para os MASTER VIP´S, VIP´S e os NORMAIS, simplesmente porque Seu Jorge não cantou para alguém especial, alias, Seu Jorge não cantou, o Seu Jorge conversou com todos, apesar dos momentos em que achei que aquela conversa era pessoal entre mim e ele sem a presença daquela multidão. uma conversa aberta e sincera, com muitos recados para um país que apresenta dificuldades em criar uma malha para peneirar as coisas boas das coisas más que todos os dias nos são introduzidas de dentro para fora, mas também em muitos casos de dentro para dentro.

Mina do Condomínio, Tive Razão, Amiga da Minha Mulher ou Carolina, foram alguns temas da conversa que ele teve com o público e até o francês Serge Gainsbourg entrou na conversa.

a medida que as musicas iam passando umas atrás das outras, e já depois da senhora sentada na fila de trás se cansar de me pedir para sentar, fui ganhando aos pouco a coragem necessária para o meu acto de agradecimento, não só pela noite inesquecível que presenciava mas por tudo que o Jorginho (como carinhosamente gritavam as meninas ao meu lado) me deu desde o dia em que ele entrou para minha vida. sem medir as consequências, sem pensar em nada, corri para frente do palco e atirei-lhe a minha parceira que nos últimos 10 anos me tem acompanhado em todos os concertos que vou.

ofereci ao Seu Jorge a minha bandeira coberta de autógrafos de pessoas que já nem me lembro, simplesmente porque acredito que será bem cuidada. 


obrigado e até a próxima!